Após ter inaugurado com “Jogos Mortais” o torture porn, James Wan resgatou tudo o que assegurou o sucesso de clássicos de casas mal-assombradas com “Sobrenatural”, cuja sequência será lançada em breve. Com “Invocação do Mal”, o diretor de 36 anos nascido na Malásia e naturalizado na Austrália atinge o feito de oferecer uma obra que supera tudo o que tem sido produzido para este segmento.
Interpretados por Patrick Wilson e Vera Farmiga, Ed e Lorraine Warren realmente existiram. Ele um demonologista e ela, uma médium clarividente, ambos contabilizaram centenas de casos em que comprovaram a presença de entidades malignas em residências. O mais notório talvez seja o da família Lutz, que posteriormente renderia o longa-metragem “Terror em Amityville”.
Em “Invocação do Mal”, dois casos famosos são narrados. O primeiro envolve a boneca Annabelle, provavelmente o maior “atrativo” ainda em exposição no museu de ocultismo criado pelos Warren situado em Connecticut. Porém, é a história da família Perron o principal foco do roteiro assinado por Carey e Chad Hayes, os mesmos responsáveis por alguns filmes da Dark Castle, como o remake “A Casa de Cera” e a adaptação da graphic novel “Whiteout”, “Terror na Antártida”.
Assim que compram uma velha residência à beira do lago em Rhode Island, o casal Carolyn e Roger (Lili Taylor e Ron Livingston) e todas as suas cinco filhas são assolados por estranhos eventos em sua maioria noturnos. Carolyn desperta diariamente com hematomas cada vez mais evidentes e as garotas não conseguem dormir muito bem, a exemplo do sonambulismo que volta a acometer Cindy (Mackenzie Foy). Quando todos são atingidos simultaneamente em uma noite perturbadora, Carolyn solicita a ajuda dos Warren após ser convencida pelas habilidades do casal em uma palestra universitária.
James Wan se cercou de grandes talentos para trazer novidades a este filão. Tecnicamente, “Invocação do Mal” é irretocável. O objetivo de propagar o medo funciona porque Wan é minucioso na construção de cenas. Consegue planos elaboradíssimos (como o movimento de 180º que executa com a sua câmera quando uma das filhas do Perron busca flagrar algo que possivelmente se esconde embaixo de sua cama) e usa de modo consciente a música de Joseph Bishara e o som supervisionado pela equipe de Joe Dzuban, sensata no modo como se esquiva de sussurros do além na intenção de preservar uma ameaça mais física. No elenco, os destaques são Vera Farmiga, Lili Taylor e todas as meninas – somente a presença de Ron Livingston se mostra um equívoco, pois o fraco ator não tem aptidão para se impor como um pai de família cercado por dilemas.
Sucesso estrondoso de público e crítica, “Invocação do Mal” tem como segredo o medo de não flertar com o drama como método de efetivar a força dos fatos verídicos que lhe serviram como inspiração. Além da família Perron, as presenças demoníacas também enfraquecem Lorraine, vulnerável após auxiliar um exorcismo fora do habitual. Em meio a tantos momentos aterrorizantes, há um respiro para compreendermos que a principal ferramenta para combater a ameaça é o fervor que uma família tem em manter os seus pilares. Por isso “Invocação do Mal” é tão assustador: após a sessão, a linha entre o bem e o mal parece ainda mais tênue.
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